02/06/2010

VIVER O CELIBATO....

Uma opção de amor!

“O vida no celibato é, portanto, também uma opção de amor, mas orientada para Cristo. A pessoa doa-se a si mesma, não a uma pessoa de outro sexo com a qual estabeleceu vínculos de afeto, mas a Cristo no qual crê e pelo qual acredita ser amado. A sua entrega significa o assumir de uma vida que é renovada por Cristo e penetrada pela força do Espírito. A pessoa doa-se em todo o seu ser, também na dimensão física, mas fá-lo de forma diferente da que é vivida no matrimónio”. ( Dos escritos do Pe Jorge Guarda).

“Dilatar o coração para o Senhor”

“…Há um texto muito sugestivo de Chiara Lubich que fala da castidade como o “dilatar o coração segundo a medida do coração de Jesus”. Fazendo assim, a pessoa empenha-se em amar cada irmão “como Jesus o ama”. A isto a autora chama a “castidade de Deus”. Escolhendo o celibato por ter sentido o grande amor de Cristo por ele, o fiel cristão esforça-se por viver o amor à maneira e segundo a medida de Cristo. Para ele, o amor a Cristo e ao irmãos constituem um mesmo e único amor. E trata-se sempre de amar por Jesus, por uma graça que vem dele. É um amor a todos, universal, mas vivido na doação um a um, isto é, àquele que encontro, que se cruza comigo, que passa pela minha vida. Está aqui a originalidade do amor na pessoa celibatária, que é diferente, portanto, do amor conjugal. Este passa sempre pelas expressões humanas da sexualidade e da ternura.
A doação livre de si mesma ao outro, fielmente, como Jesus ama,  é que torna o amor puro e casto, tanto na pessoa casada como na celibatária. Na primeira, as expressões físicas do amor  não o degradam; na segunda, não precisa de tolher o coração nem de reprimir o amor, pois encontrará sempre expressões belas para amar o seu próximo, de forma concreta e sensível. No primeiro caso, o amor une sempre mais quem o vive e estreita os vínculos entre as pessoas. É vivido na doação e acolhimento mútuos. No celibatário, o amor não prende mas liberta, é vivido na generosidade e no desapego, torna a pessoa dom para os outros sem esperar a compensação.
O amor do celibatário há-de ser também fecundo, gerar vida, não no sentido físico mas na dimensão espiritual. Mediante o amor, o celibato gera a vida de Jesus nas almas que encontra, cria vínculos espirituais com as pessoas e pode mesmo exercer uma paternidade espiritual, fazendo com que tais pessoas se sintam regeneradas, recebendo uma nova vida a de Deus. Deste modo, enriquece também a humanidade, contribui para o seu crescimento qualitativo, espiritual.
Quem é chamado ao celibato, consagrando a sua vida a Deus, faz a renúncia à vida de casado. Cumpre, quase à letra, a palavra de Jesus: “qualquer de vós que não renunciar a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,33). Renuncia à sexualidade genital, à relação de afecto com outra pessoa, à paternidade ou maternidade biológica, a constituir a sua família, desapega-se de tudo e de qualquer pessoa, para seguir Cristo mais  de perto e viver uma comunhão especial com Ele. Mas desta relação, no Espírito Santo, pelo amor, há-de surgir uma nova família, a fraternidade cristã, que pode adquirir múltiplas formas e que se traduz na vida da comunidade cristã, na sua variedade. Se não gerar a comunidade dos filhos e filhas de Deus, o celibato fica infecundo. Sem a paternidade ou maternidade espiritual, o celibatário corre o risco de ficar estéril e de viver  a sensação de perda, de frustração, de estar incompleto, de não atingir a plenitude.
“Bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus” (Mt 5,8). O celibatário que assume a sua vocação livremente e a vive fielmente numa doação incondicional a Deus, no amor, e no serviço generoso aos irmãos, experimenta realmente a felicidade e “vê” verdadeiramente Deus na sua vida. Deixou tudo pelo Senhor, e nada lhe falta. Renunciou a constituir uma família, e vive rodeado de irmãos e irmãos, de filhos e filhas, numa grande família espiritual reunida no amor de Cristo. A sua vida é muito diferente da de muitos solteiros de moda, centrados em si mesmos e nos seus prazeres, gerando e gerindo a solidão, que produz um vazio de alma e tédio.

A Vida Consagrada e a Eucaristia


“Como sempre na história, a Igreja coloca-se entre o sopro do Espírito, que abre novos caminhos, e as seduções do mundo, que tornam o caminho incerto e podem conduzir ao erro. Por este motivo devemos ir ao “poço” da Eucaristia. Só uma leitura eucarística das necessidades do tempo nos pode ajudar a interpretar a qualidade das novas formas de enfrentá-las.
Jesus na Eucaristia aguarda-nos e chama-nos: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e aliviar-vos-ei” (Mt 11, 28). Melitão de Sardis comenta assim: “Vinde, portanto, todos os povos, oprimidos pelos pecados e recebereis o perdão. De fato, sou eu o vosso perdão, sou eu a Páscoa da redenção. Sou eu o Cordeiro imolado por vós [...], a vossa vida, a vossa ressurreição, a vossa luz, a vossa salvação, o vosso rei. Eu elevo-vos aos céus. Ressuscitar-vos-ei e mostrar-vos-ei o Pai que está nos céus. Elevar-vos-ei com a minha direita”.
A “paixão por Cristo” deve levar as pessoas consagradas a colocar no centro da sua existência e das suas atividades Jesus, presente e operante na Eucaristia. À volta da sua mesa, as nossas orientações apostólicas terão maior garantia de fidelidade ao seu espírito e uma capacidade mais certa de fazer as opções justas.
Jesus veio anunciar a “Boa Nova” e repete-nos hoje o que disse ao Apóstolo Pedro, que regressava desanimado pela pesca infrutuosa: “Duc in altum”. É o desafio da Eucaristia. A vida consagrada reencontra a sua identidade quando deixa transparecer nos fatos a “memória viva do modo de existir e de agir de Jesus como Verbo encarnado diante do Pai e dos irmãos. Ela é tradição da vida e da mensagem do Salvador”.
Esta perspectiva eucarística dá renovado vigor às motivações espirituais e uma nova vitalidade à ação apostólica, e leva ao seu cumprimento a consagração batismal, fundamento da identidade e da missão das pessoas consagradas”

O valor da vocação das Virgens Consagradas

Bento XVI recebeu esta manhã no Vaticano um grupo de 500 consagradas da “Ordem das Virgens”, uma expressão particular da vida religiosa com raízes “nos inícios da vida evangélica”. Perante as consagradas, provenientes de 52 diferentes países, o Papa quis frisar o valor desta vocação, convidando-as a “crescer dia-a-dia na compreensão de um carisma tão luminoso e fecundo aos olhos da fé, quanto obscuro e inútil aos olhos do mundo”.
“Elas representam milhares de outras irmãs suas que vivem na simplicidade e na humildade a sua consagração total ao Esposo das virgens, a serviço da Igreja local”, sublinhou, por seu lado, o Cardeal Franc Rodé, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de vida apostólica. “Um dom na Igreja e para a Igreja” foi o lema desta peregrinação.
Bento XVI recordou que “a Ordem das Virgens constitui uma expressão particular de vida consagrada, que refloresceu na Igreja depois do Concílio Vaticano II, mas cujas raízes são antigas”. De fato, radicam “nos inícios da vida evangélica quando, como novidade inaudita, o coração de algumas mulheres começou a abrir-se ao desejo da virgindade consagrada: ou seja ao desejo de dar a Deus todo o próprio ser”.
“O vosso carisma deve refletir a intensidade, mas também a frescura das origens. Funda-se num simples convite evangélico, ‘Quem puder compreender, que compreenda’, e no conselho paulino sobre a virgindade pelo Reino de Deus. E contudo nele ressoa todo o mistério cristão”, disse o Papa.
Bento XVI concluiu afirmando que “quando surgiu este carisma não se configurava com particulares modalidades de vida, mas foi-se depois institucionalizando, pouco a pouco, até chegar a uma verdadeira consagração pública e solene, conferido pelo Bispo mediante um sugestivo rito litúrgico que fazia da mulher consagrada a sponsa Christi, imagem da Igreja esposa”.

Tudo por amor de Deus, felizes na sua própria vocação.

 

“Bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus” (Mt 5,8). O celibatário que assume a sua vocação livremente e a vive fielmente numa doação incondicional a Deus, no amor, e no serviço generoso aos irmãos, experimenta realmente a felicidade e “vê” verdadeiramente Deus na sua vida. Deixou tudo pelo Senhor, e nada lhe falta. Renunciou a constituir uma família, e vive rodeado de irmãos e irmãos, de filhos e filhas, numa grande família espiritual reunida no amor de Cristo. A sua vida é muito diferente da de muitos solteiros de moda, centrados em si mesmos e nos seus prazeres, gerando e gerindo a solidão, que produz um vazio de alma e tédio.
Viver em celibato, conservando a castidade do coração, exige esforço para corresponder à graça da própria vocação. É preciso, antes de mais, cuidado em manter e consolidar a liberdade pessoal, para amar sempre mais, mantendo a vigilância sobre todas as situações que a podem pôr em causa. E, face aos limites e falhas, o celibatário há-de abraçar a cruz e recomeçar no empenho pela fidelidade no amor. A relação com Deus, sempre mais profunda, cultivada na oração, e uma sadia comunhão fraterna ajudam muito a manter-se fiel na própria entrega de amor.
O celibato e o matrimónio são duas vocações diferentes mas não contrapostas. Celibatários e casados, felizes na sua vocação,  deverão constituir estímulo e ajuda uns aos outros, partilhando o próprio dom, reconhecendo e estimando o dos outros, numa comunhão eclesial operada pelo Espírito Santo. 

Castidade no celibato

Cânon 599: “O Conselho evangélico da castidade, assumido por causa do Reino dos céus e que é sinal do mundo futuro e fonte de maior fecundidade num coração indiviso, implica a obrigação da continência perfeita no celibato”.  
O cânon 599 fala da obrigação da perfeita continência no celibato, mas como conteúdo do conselho evangélico da castidade assumido pelo Reino dos Céus.  Põe assim, a obrigação do controle da vontade, na esfera da sexualidade. Trata-se, pois, de uma obrigação sustentada pela graça. ( cf. PC 12 a) A castidade perfeita e perpétua no celibato ou na virgindade é a integração, por obra da graça, da sexualidade num amor oblativo vivido na vida celibatária, escolhida pelo Reino dos céus. O conselho evangélico da castidade celibatária deve tender a sua plena realização na virgindade do coração, da qual a virgindade física é sinal e tutela.  Se falta, por qualquer razão, a virgindade física, a castidade celibatária, no dinamismo do amor, deve igualmente tender a sua perfeição na divindade do coração, consecução daquela pureza de coração, que no aniquilamento total de si, chega à união plena com Deus. É o que se depreende do Decreto Perfectae Caritatis, n. 12c:
A virgindade física vivida na virgindade do coração indica a doação de si mesmo a Deus desde o nascimento. O conselho evangélico da castidade celibatária é, pois, sinal de vida futura e é fonte de uma mais rica fecundidade no coração indiviso. Só a virtude teologal da caridade é fonte de uma mais rica fecundidade no coração indiviso no hoje, mas na projeção da realização futura da qual a própria vida consagrada torna-se, assim, mais sinal(cf. VC 16, 33). Como conseqüência, os candidatos não devem ser admitidos à profissão , senão depois que tenha sido por eles alcançada uma suficiente maturidade psicológica e afetiva. Visto que a observância da castidade perfeita atinge intimamente inclinações mais profundas da natureza humana, os candidatos não se abeirem nem sejam admitidos à profissão da castidade, senão depois duma provação verdadeiramente suficiente e com a devida maturidade psicológica e afetiva. Sejam não só instruídos sobre os perigos que ameaçam a castidade, mas formem-se de tal maneira que abracem o celibato consagrado a Deus também como um bem de toda a pessoa.”
No que se refere à castidade, o Código estabelece um mínimo canônico, pelo que se ultrapassa isso não se pode mais permanecer na vida consagrada (cf. cc. 694, 695, 1395). Salvas as disposições gerais do Código, o direito próprio deve dar uma disciplina particular, segundo a natureza e as finalidades do instituto. (cf. cc. 598; 692; 712; 732)

Manter a lâmpada sempre acesa

“Hoje temos a necessidade de renovar sempre a experiência da beleza da forma de vida do Cristo. Temos a necessidade de não perder mais o atrativo por ela. Não há dúvida de que a vida consagrada está passando por alguns momentos de dificuldade. A diminuição dos membros, o envelhecimento, a corrosão da mediocridade espiritual, do enriquecimento, da mentalidade consumista, do secularismo, são realidades muito presentes na vida religiosa. Também do interior de nossa própria vida aparecem algumas ameaças como o ativismo, a busca de eficiência baseada apenas na força humana, o individualismo. (cf RdC 12).
E também neste contexto adverso somos chamados a descobrir um novo kairós, um tempo de graça para a vida consagrada. De fato, da mesma forma que quando a noite é muito escura, mais se valoriza qualquer pequeno sinal de luz, assim hoje os conselhos evangélicos que Cristo viveu e que os religiosos abraçam, aparecem como uma via para a plena realização da pessoa, em oposição a desumanização, um potente antídoto à contaminação do Espírito, da vida, da cultura; os conselhos evangélicos proclamam a liberdade dos filhos de Deus, a alegria de viver segundo as bem-aventuranças evangélicas (RdC 13). Desde modo eles podem ser considerados como uma luz e um testemunho que tantos esperam e desejam, mesmo que de uma forma não muito consciente. (cf NMI 16)
Por isso a insistência que se faz sobre o tema da contemplação do rosto de Cristo, e, sobretudo do seu rosto transfigurado, tem uma razão bem precisa: nós religiosos somos chamados a sermos suas testemunhas radiantes e alegres. Toda a nossa existência unida a de Cristo, deveria ter como lema a palavra de Pedro: “Senhor, como é bom estarmos aqui!” (Mt 17,4); e poder dizer, com toda verdade: “Como é belo estar contigo, dedicarmo-nos a ti, concentrarmos de modo exclusivo a nossa existência em ti!” E fazer de qualquer maneira a experiência dos três discípulos no Tabor, sentirmo-nos tomados pelo seu fulgor: “Ele é o mais belo entre os filhos do homem”(Sl 45 [44], 3), o incomparável” (VC 15).
“A virgindade é a doação total e definitiva que um homem ou uma mulher faz a Deus da sua vida pelo “ Reino dos Céus”. Trata-se de um caminho que o homem sente assumir para atuar com plenitude as suas aspirações ao amor, O seu amor será, portanto exclusivo e total para com Deus e um amor universal  para com a comunidade dos homens. O modelo ao qual se inspira nesta doação é Jesus na máxima expressão do seu amor para com o pai e para com os homens, quando se dá todo inteiro sobre a cruz no abandono. O virgem fiel á sua escolha, poderá então repetir continuamente. “ Tenho um só esposo sobre a terra, Jesus crucificado e abandonado”. Ele está disposto a tudo, porque para si não espera um amor que retorne para gratificá-lo, mas, como Jesus, é simplesmente doação, portanto amor gratuito”.

 

 

 

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